Entre a Simplicidade Desejada e a Complexidade Real
A existência humana, em sua essência, aparenta uma simplicidade convidativa, um caminho reto e previsível que acalenta nossos anseios mais profundos. Em nossos pensamentos, tecemos narrativas ideais, projetando um futuro onde cada passo se encaixa perfeitamente em nossos planos, onde os desejos se materializam sem grandes obstáculos. Contudo, a vivência cotidiana nos confronta com uma realidade mais complexa, onde a linearidade idealizada frequentemente se desvia, dando lugar ao inesperado e ao não planejado. A irrupção da “variável”, essa força motriz da mudança, surge em nosso percurso, desafiando a estagnação e nos impulsionando para além da mesmice. Sem essa dinâmica imprevisível, a vida se tornaria um ciclo repetitivo, desprovido dos desafios que moldam nosso caráter e das superações que celebram nossa resiliência.
Inevitavelmente, a mente humana se questiona diante das provações: “Será que a jornada precisa ser intrinsecamente árdua, repleta de obstáculos que testam nossa força e paciência?”. Essa indagação ecoa em nossos corações, buscando um sentido mais suave para a existência. No entanto, a própria natureza da vida reside em sua vitalidade pulsante, em sua capacidade de gerar um espectro de experiências que abrangem a alegria e a tristeza, a certeza e a surpresa. Por que, então, a vida não se desenvolve em uma linha tênue, em conformidade com nossos anseios predefinidos? A resposta reside no próprio âmago da existência: viver plenamente implica abraçar a complexidade, navegar pelas incertezas e florescer em meio aos desafios. Como nos lembra o livro de Tiago 1:2-4: “Meus irmãos, tende por motivo de grande alegria o passardes por diversas provações, sabendo que a provação da vossa fé produz perseverança; e a perseverança tenha a sua obra perfeita, para que sejais perfeitos e completos, não faltando em coisa alguma.” As provações, embora desafiadoras, são instrumentos para o nosso crescimento e aperfeiçoamento.
A aparente aleatoriedade dos acontecimentos pode nos levar a questionar o controle e o propósito. Contudo, sob uma perspectiva mais profunda, podemos vislumbrar que muitos eventos, embora escapem à nossa compreensão imediata, integram um tecido maior, um plano que se desenrola em relação à nossa própria jornada. Como está escrito em Provérbios 16:9: “O coração do homem planeja o seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos.” Reconhecer essa dimensão espiritual nos oferece conforto e confiança em meio às incertezas.
Dentro desse cenário de variáveis, reside também o nosso poder de agência. Somos autores de nossas escolhas, semeadores de decisões que germinarão e produzirão frutos no futuro. Cada ação, cada palavra, cada intenção planta uma semente que, inevitavelmente, trará consigo uma colheita. Gálatas 6:7 nos adverte: “Não vos enganeis; Deus não se deixa escarnecer; pois tudo o que o homem semear, isso também ceifará.” Essa lei espiritual da semeadura e da colheita nos responsabiliza por nossas escolhas e nos convida a cultivar virtudes e ações que gerem resultados positivos em nossas vidas e no mundo ao nosso redor.
Diante dessa intrincada dança entre o previsto e o imprevisto, entre a ação e a consequência, somos levados a ponderar sobre a necessidade de tamanha complexidade. Acredito que essa é a nossa singular porção nesta existência fascinante e imprevisível. É nessa interação dinâmica que aprendemos, evoluímos e descobrimos a profundidade do nosso potencial. A beleza reside em reconhecer que, embora as variáveis da vida possam nos surpreender, nossas ações conscientes estabelecem uma certa previsibilidade em nosso futuro. É quase paradoxal, mas profundamente humano, persistir na crença de que, ao plantarmos as sementes certas, colheremos os frutos desejados, mesmo que a lógica terrena às vezes pareça sugerir o contrário. O dom da vida se revela, então, como uma maravilhosa oportunidade de vivenciar essa complexa “matemática” da existência, abraçando suas variáveis com sabedoria e fé, confiando que, em última instância, há um propósito maior se desdobrando em cada etapa da nossa jornada. Como Jeremias 29:11 nos assegura: “Porque eu sei os planos que tenho para vocês’, diz o Senhor, ‘planos de fazê-los prosperar e não de causar dano, planos de dar a vocês esperança e um futuro.'”
Ederson lopes


